Cabelos e Unhas
Cabelos e Unhas
Os cabelos e as unhas exercem um papel social e psicológico de extrema importância. São indicadores de beleza e de status social. Além das doenças específicas que acometem essas áreas, os anexos são submetidos a diversas agressões externas, tanto físicas como químicas. O cabelo é uma das características mais variáveis do ser humano. Cor, comprimento, densidade e penteado caracterizam diversas raças, religiões, aspectos políticos, sociais e etários. Devido a sua capacidade de expressão da personalidade, os anexos são sujeitos a procedimentos estéticos e modificações das mais diversas formas, muitas delas acabam prejudicando a vitalidade tanto das unhas como dos cabelos.
A queda de cabelo está entre as mais frequentes queixas de visita ao dermatologista. A importância psicossocial dos cabelos se reflete na ansiedade e sofrimento dos pacientes.
Para a avaliação da queixa de queda de cabelo consideramos vários aspectos. Envolve conhecimento do ciclo natural dos fios, uma história clínica detalhada, especialmente focada nos meses que antecedem a queda. Informações importantes sobre doenças concomitantes, uso de medicamentos, outros sintomas como dor e ardência do couro cabeludo, histórico menstrual, frequência e produtos utilizados na lavagem, etc.
Um exame clínico detalhado, com analise do padrão da alopécia, se é localizada ou difusa, se acomete outras áreas do corpo, se apresenta acne ou seborreia associados, avaliação de alterações das unhas ou de inflamação no couro cabeludo. Toda essa análise é fundamental para se juntar com exames complementares para se firmar um diagnóstico e propor intervenções terapêuticas mais efetivas.
Além da avaliação laboratorial (exames de sangue), outros exames complementares podem ser realizados dependendo de cada caso.
Com um equipamento chamado dermatoscópio, que possui uma lente de aumento e emite uma luz polarizada sobre o couro cabeludo, é possível analisar diversos achados que são indicadores de determinadas doenças. Com esse equipamento pode-se analisar as alterações presentes na pele que circunda a emergência dos fios, o número e a densidade dos folículos, o número de fios por folículo e sua espessura, presença ou não de fios de repilação ou fios atróficos. Pode ainda ser utilizada para acompanhamento do tratamento. É uma ferramenta indispensável na avaliação da queixa de queda de cabelo.
Neste exame, uma amostra de fios é “arrancada” do couro cabeludo e analisada através de um microscópio. Os fios são classificados em anágeno, catágeno e telógeno, de acordo com a sua fase de crescimento e padrão de proporcionalidade, considerado normal de 85 a 90% de anágeno, 10 a 15% de telógeno e 1% de catágeno. Com esse exame, podemos avaliar alterações nessas proporções que podem indicar determinadas doenças. Outra variante desse exame, seria raspar uma pequena área do cabelo e fotografar de imediato, após 7 dias. Isso ajuda a avaliar a proporção de fios anágenos (fios que crescem), dos fios telógenos (em repouso).
Após a anestesia, uma pequena área do couro cabeludo é removida e enviada para análise do patologista.
O patologista, com experiência em patologias do cabelo, analisa a estrutura dérmica dos fios (profundidade).
Os pacientes apresentam diminuição progressiva do diâmetro e comprimento das hastes capilares das áreas mais susceptíveis aos efeitos dos andrógenos como a frontal, parietal e vértice. É considerada a causa mais comum de alopécia. Afeta em intensidade variável até 80% dos homens e 50% das mulheres. Nas mulheres é chamada de alopécia androgenética de padrão feminino.
Existe uma predisposição familiar para a doença, e apesar da clara evidência da participação dos andrógenos (testosterona) na sua gênese, na maioria dos pacientes não há aumento sérico desses hormônios, mas sim um aumento dos receptores dos andrógenos nas áreas acometidas. O tratamento deve ser iniciado precocemente e de longa duração. Casos mais avançados, em que o folículo piloso está completamente atrofiado, a única opção possível é o transplante de cabelos.
É uma causa comum de queda de cabelo. Ocorre devido a uma conversão prematura dos fios de cabelo na fase de crescimento dos fios (anágena) para a fase de fios terminais (telógena). Ocorre uma queda de 200 a 300 fios por dia, geralmente entre 2 a 3 meses após um estímulo desencadeante. Quando afastado ou corrigido o agente causador, o processo cessa, e verifica-se uma recuperação total dos fios.
Pode acometer qualquer indivíduo. Pacientes em dieta rigorosa, estresse emocional, deficiência de ferro, deficiência de vitaminas, doenças sistêmicas, distúrbios hormonais e medicamentos. Em pacientes no pós-parto e após cirurgia bariátrica, a queda dos cabelos é dramática e muitas vezes assustadora para os pacientes. Em até 30% dos casos a causa não é identificada. Muitos pacientes, em torno de 30%, apresentam dor ou sensação de ardência/queimação do couro cabeludo. A doença pode se tornar crônica e se assemelhar com a alopécia androgenética.
A alopécia areata é uma doença autoimune. Caracteriza-se por uma ampla forma de apresentação. A mais característica é a de pequenas áreas circulares bem definidas de perda dos cabelos. Pode acometer qualquer área do corpo, incluindo a área da barba e genitais. Mais de 50% dos casos se iniciam antes dos 20 anos.
A maioria dos casos é autolimitado, mas casos graves, com a perda completa de todos os fios do corpo pode acontecer, um quadro dramático e de difícil tratamento.
A escolha do tratamento depende da idade do paciente, extensão da perda dos pelos e da presença de doenças associadas. Quanto mais precoce se tiver o diagnóstico e iniciar o tratamento, maiores são as chances de sucesso terapêutico.
Nesse tipo, a tração exagerada promove rarefação dos fios, geralmente na porção frontal e temporal da linha de implantação dos cabelos. Afeta principalmente pacientes de pele negra, que necessitam andar com os cabelos constantemente presos, ou uso de acessórios para alisamento e embelezamento como rolos, pranchas ou megahair.
Se o ato de tracionar o cabelo não for suspenso, a alopécia pode se tornar cicatricial e definitiva.
Nesse grupo, estão incluídas diversas patologias que promovem a destruição permanente do folículo piloso e de suas células troncos, resultando em fibrose local e alopécia definitiva. Entre as mais comuns estão o Lúpus eritematoso discoide, Líquen plano pilar, foliculite decalvante, alopécia central centrífuga e acne queloidiana da nuca. Essas patologias necessitam de avaliação especializada e tratamento precoce. Depois que a fibrose substitui os folículos pilosos, a alopécia é definitiva.
A lesão ungueal pode ser causada por doenças sistêmicas ou por fatores externos, como traumas e infecções.
A resistência das unhas é resultado principalmente do alto conteúdo de aminoácidos que contém enxofre (cisteína e metionina) e das ligações cruzadas de queratina. Apesar de ser uma estrutura rígida, possui uma grande permeabilidade à água, sendo até dez vezes maior que a epiderme, por isso, pessoas que mantêm contato frequente e prolongado nas mãos com a água apresentam distrofias ungueais.
As unhas das mãos crescem em média 3mm ao mês, e a dos pés 1mm. Devido a esse lento crescimento, o tratamento das unhas pode levar meses para se obter um resultado visível.
É uma causa comum e exclusiva das unhas das mãos. Queixa frequente de consultório, especialmente nas mulheres. Está relacionada a um defeito no cimento intercelular que mantém os queratinócitos da placa ungueal aderidos. Outro fator associado ao seu desenvolvimento é um conteúdo lipídico reduzido na lâmina ungueal desses pacientes, o que leva a uma maior perda de água e consequente ressecamento e fragilização das unhas.
Diversas patologias podem se apresentar com alterações ungueais. Elas podem ser exclusivas das unhas ou fazer parte de um conjunto de manifestações. Por isso a importância de uma avaliação completa com dermatologista, para avaliar todas as possibilidades diagnósticas através de um exame físico completo. Alguns exemplos: Líquen plano ungueal, doença de Darier, alopécia areata, doenças da tireoide, medicamentos, traumatismos e uso de calçados apertados.
Alguns cuidados que devemos ter com as unhas:
– Evitar a imersão prolongada em água;
– Evitar o contato com detergentes;
– Usar luvas de algodão dentro das luvas de borracha, reduzindo a umidade excessiva causada pela oclusão da luva;
– Usar removedores de esmalte, e no máximo, uma vez por semana;
– Não usar acetona;
– Manter as unhas curtas.
Ocorre quando as dobras laterais das unhas exercem pressão sobre o tecido periungueal criando inflamação, edema e formação de granulomas no local.
As principais causas são a hipercurvatura transversa constitucional da unha, dedos muito largos ou desviado em valgo (tortuosidade do hálux em direção aos dedos menores). O indivíduo pode ter um formato ungueal que predisponha ao encravamento da unha que, quando associado a fatores precipitantes como medicamentos, uso de sapatos apertados e traumas sobre a lâmina ou matriz ungueal, desencadeia o processo inflamatório.
O tratamento é essencialmente cirúrgico, o uso de órteses pode trazer melhora temporária, mas a recidiva é muito comum.
Diversas abordagens podem ser realizadas e devem ser avaliadas caso a caso. Não é raro pacientes que já tenham se submetidos a mais de um procedimento, com pouca resposta. Casos recidivantes necessitam de procedimentos mais complexos, incluindo remoção de osteófitos ósseos e de tecido periungueal excedente.
São graves alterações da hipercurvatura transversa da unha. A curvatura da unha se estende para as porções distais do dedo, literalmente “pinçando” a extremidade distal do dedo.
O tratamento é eminentemente cirúrgico. É necessária uma avaliação prévia com exames de imagem, pois geralmente existem projeções ósseas que devem ser removidas no mesmo tempo cirúrgico para evitar recidivas.